23 de abril de 2011

Equilíbrio

Delícia de fome, me conformo com os pedaços de comida, água e saliva. A boca digere, o esôfago digere, digere o estômago, enquanto meus pensamentos passeiam pelos arcos da lapa até a ponta mais sutil do Arpoador. Ali é onde o sol se empenha em brilhar e a terra em girar pela inércia gigante desse sistema. Comportada pelos deveres, no entanto vejo a busca latente cada vez mais eminente e viva, e os resultados piscam pela tela dos acontecimentos. Primeiro uma foto, depois, um beijo, um desejo, os líquidos ainda borbulham sob o externo e meus olhos arregalam. Açúcar, sal, cafeína, glicose, hormônio, agrotóxico. Fossa dos desejos a me alimentar, combustível dos triglicerídeos, desconserto natural. Assim que arregalo, os músculos atiçados querem esticar contorcer desintegrar sobre a ação de seus próprios ácidos. Dor. Remédio. Retorno a ponta da cama, e sentada escrevo, não mais reflito sobre o dia, sobre o que deixei de fazer, presumo o sentimento que ainda não me acendeu no bulbo do cérebro. Descanso pelo ócio que tanto me quer alçar. Inércia dos cabelos oleosos e quebradiços. No caco mais ligeiro de mim, me varro para chegar na pá da consciência, olho pra sua carinha de noiva e a beijo na testa. De novo um barulho do corpo um grito no ínfimo do físico mudo e ativo. Vomitei. Estou viva. Pronto, saiu. Agora sim. Volto para a corda bamba do tempo, e equilibro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário