21 de novembro de 2011

Limpa

Concordo
As palavras andam escorregadias
passaram sabonete na intenção
de limpar as línguas.
Para que o povo se acostumasse
ao gosto azedo do detergente
Para uma limpeza urgente
Eles tentam disfarçar a cara
das nossas necessidades,
passam álcool em cada quina,
no vale das letras deixaram
acumular um pouco de desinfetante.

E a gente toda se engasga,

pouco a pouco,
a voz maior se estraga.

16 de novembro de 2011

o menino

Barulho, caos, orgulho
É tanto murmúrio, e ele nem espanta
É tanta euforia em volta e ele canta e canta
A moçada achou que ele tocava lento
no laço dos corpos ele acalmou sussurrou
nas cordas, num toque que culminou
no fim dos tempos.
Era um bando de jovens
aturdidos pelo moço-dinheiro
que mandava em tudo,
eles cantavam com o garoto
mas eram um pouco surdos.

O barulho todo se reverteu pra fora
quando cantaram através da memória.
As palavras misturadas que ele oferecia
Ele não sofria (mas eu sofri tanto)
Ele não sofria, ele só fazia cada nota
como quem assopra pra dentro de si
abrindo as portas que existiam
na conciência das cervejas de garrafa
no pensamento das vodkas do bar
na gentileza das cachaças sensatas.

Ele só queria rir pra praça
Adimirar a chuva, a noite, as garças.


(eu sofria tanto)

para o menino cícero.



14 de novembro de 2011

É pelo Grito

Pelo grito, derrubo alguns dilemas sobre o chão e abraço a causa de inúmeras nações. Opto por ver o riso dinamite das crianças enquanto cantam, ao invés dos títulos, dos apegos materiais e do ócio entorpecente das festa. Por esse grito que choro horrores ao ver o bem-te-vi no parapeito da minha janela, porque não é todo dia que ele resolve repousar ali, e não é todo dia que estou ali olhando pra fora. Repito, re-escrevo e amasso as folhas virtuais de letras que só piscam na tela pela eletrônica dos leds e cristais líquidos da tecnologia. É pelo grito que eu gemia ao ver a tua mão tocar a minha pele sem que houvesse amor antes do beijo. É no grito que o desejo é carne. E que a fúria é sangue. É na adrenalina que sobe e anestesia as preocupações e as dores do corpo. Porque é com o grito que ouço mais, e tateio mais, e as cores supersaturam na retina dos acontecimentos. É por ele que as idéias adormecem no assoalho da alma, a espera do momento inusitado e fértil de realizar os inúmeros planos.

5 de novembro de 2011

Chuviscos



A chuva.
Que tanto que é suspensa,
e úmida sob nossas narinas,
tanto que é ar e que agita
cogita e logo logo apita.
A chuva é mágoa de ar,
fazendo pirraça até virar nuvem.
E logo cansa de ficar pra lá e pra cá
até gritar pelo além, caindo sobre um mar
de possibilidades.
Árvores
cabeças
desigualdades
A chuva cai pra todo mundo.
A chuva é dessas que não escolhe o alvo,
só acerta e molha sendo fina, grossa ou algo
que só torna os egos um pouco mais calmos.