29 de novembro de 2010

... Camadas .

É transformando que se encontra por dentro e por fora
as diversas peles em camadas que nos revestem.

Assim que se obtém o acesso, um caminho para novos fluxos se abre
recompondo o resto dos tempos passados, fazendo valer a pena
a calma
a espera
a insistência.


Relendo-se
nos pés vai achar um livro dos desejos antigos das conversas vividas,
A cabeça gira sobre todo o eixo e pára diagonal ao espelho das unhas dos dedos.

Temos esse corpo, como máquina de conectar mundos, e a mente como software mutável de interpretação ultraveloz.
Temos o todo que somos se manifestando através das imagens que recebemos em troca.
Do que impera lá fora.


O todo é interno a ti.
Para além, há o desconhecido, metafísico,
indecifrável para as pupilas humanas.

25 de novembro de 2010

Te queimas por dentro?


Não é o tempo que se desconectou em chamas. É o fingimento morando em cada um que engana. Ensinam o que é humanidade, o que é igualdade, o que é amor. Mas ensinam de maneira hipócrita, falam e não fazem exemplo. Não foi vivenciado por dentro.


Parece que o ar sai da boca só pra fazer pequenas turbulências do lado de fora, enquanto por dentro fica ausência. Carência que vira medo, que vira raiva e sai em forma de rajada de ferro. É que ensinam mas depois esquecem, e seus filhos viram leitores de preces, palavras da boca pra fora. Repetem mecanicamente, soltam no ar. Recuam os olhos e escurecem.

21 de novembro de 2010

A História do Homem que ouve Mozart e da Moça do lado que Escuta o Homem


É que a natureza corta o ar das coisas, e basta deixá-la seguir seu rumo randômico no momento em que brotam ambientes no espaço. Uma tensão alta tece na ponta das cabeças até que todas se grudem numa respiração conjunta dos 40 corpos presentes. Basta rir-se ardente do vácuo que puxa pela avenida dessa cidade, porque se ninguém te espia ninguém te cala. E aí, quando o mundo abaixar e encaixar por detrás das sobrancelhas, contorce, rola, e afoga o instante de vida primeira. O que desmorona por fora embaça o olhar de dentro, conexão do tempo que fulge nas corolas molhadas pelos relógios de água, e que abastece o mar de impulsos curtos instantâneos e intensos.


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Depois de uma Peça que urge próximo ao arcos da lapa.

Vale a pena ver. E absorver-se de algo realmente Humano.


http://espacocenico.wordpress.com/2010/10/28/a-historia-do-homem-que-ouve-mozart-e-da-moca-do-lado-que-escuta-o-homem/



4 de novembro de 2010

Eletroalma

Contribuindo para essa consistência,

é quando o resto se desfaz em essência.

A cadência reverberada da carga

agita o canto da alma

numa superfície equipotencial,

induzindo o campo externo

a ser diferente do ideal.


Porém, o que há por dentro

n u n c a s e a b a l a,

a não ser que cavem

e ali instalem outra fonte.


Fonte pulsante.


Carrega consigo

o eletromagnetismo

desse instante.

2 de novembro de 2010

Fios Cruzados

Curto circuito enquanto tecia as falas dos últimos sentimentos, por ele. Disfunção dos vértices do espaço-tempo, a curva de luz insistia em abrir caminho pra dentro, distante ofuscava a cabeça aguda do moleque de rua. Ele andava esguio e torto para o lado esquerdo, girava os dois braços ao mesmo tempo quando sentia medo, abria a boca e apareciam dentes fortes de um vampiro escravo. Um desespero no menino alado.

Enquanto isso eu abria os cadernos, apagava os vestígios do antigo amor-feto, balbuciava as conversas de cabeceiras virtuais, me condenava incapaz. O menino era tão torto, que sua tortura me fazia doer o dorso, curvei-me para a direita enquanto o observava e, por sua vez, o caderno apoiado na janela escorregou, foi parar lá no outro lado do terreno em cima do muro. A quina do meu grito virou um canto arredondado, era bocejo de preguiça por aquele descuido que veio do menino alado. Talvez buscar.

Talvez para sempre ficar em cima, no meio, sem atitude e perplexa como sempre foi, antes. E encarar a imagem como um desafio para meus próprios erros era tolo, infantil. A rua já não tinha o menino. A chuva fina começava a cair. Os novelos de lã estavam inundando a sala com suas mil cores e linhas. Era tempo de solidão em meio a uma concentração rala, e os fios de novelos voltavam a se unir numa sensação tricô, positivo com positivo até o fim do dia.