18 de outubro de 2012

ROMA


Romã na garganta, borbulhava até gotículas de efeitos sobre os defeitos das inguas, e a lingua amarela. Romã na guela já altera a fissura das cordas, e o vocal lesado se acorda para rimar os aromas do amor. Romã é menino que deus fez pra curar o mal olhado sobre os músicos de fé, desses que vibram de canto em canto, em cafuné. 
Pelas palavras que de tão sinceras já se esvaem rocas, me pus a gargarejar a água já abençoada pelas maravilhas de uma casca. Deitei em folhas, caí das árvores. Sonhei itinerante e repetitiva. Abri os olhos, o foco vazou pelas nuvens, assobiaram sobre mim os ronronados dos bichanos e me pus logo a respirar, gota por gota de ar. Como se não houvesse chão nem janela, as nuvens me arrastaram de novo para o mundo abrasivo dos sonhos. Vi que Roma estava cheia de amigos, amores, as esquinas eram cafés literários e músicos que narravam histórias festivas. Roma era ali, no sonho, o caos e a saída das nossas reclamações. Abro os olhos, dessa vez lentamente. Foco no bigode do gato que apoia seu queixo sobre meu queixo. E espirro. Bocejo. Alavanco uma notícia de que a garganta não dói mais. Talvez um amor me tenha provado a saliva, e dali seguiu em  direção ao combate entre o orgânico hóspede bacteriano e minha verve latina. Travaram-se batalhas ao repetir dos sonhos, e ao focar das últimas nuvens, boiou o amor sobre as bactérias falidas. Romã, antibiótico da história, filho do alquimista deus e seu fervor pela fragilidade humana. Brinca com a nossa doença, até que percebamos que a cura é da árvore do quintal de todos os dias. O mesmo jardim que as crianças se coçavam de formigas e rolavam de alegria.

9 de janeiro de 2012

Por esse incessante circular em torno de um ponto imaginário,

uma legião de leis de forças e estados a manter a tensão de tudo.

Apenas com a noção do que é isso, poderíamos sussurrar carinhos descontextualizados.

Vai que um dia as constantes gravitacionais resolvem ter vida própria e a

Terra desgovernada viajará o universo inteiro.

Cadê essa coisa que desfaz o que anda sendo repetido há milênios ??

Há cordas prendendo os planetas e é preciso cortá-las com nossas tecnológicas vontades.

E se parássemos de girar, o tempo continuaria? Ou tudo gira porque o tempo existe?

É circular é convicto é suplício geológico que perdura desde

a criação de uma malha de espaço e tempo.

A gente toda aqui dentro, intranquila, achando que consegue dar conta.

A gente toda existindo aqui nesse redondo e repetitivo invento.

Momento de achar o eixo.

Inverter as cabeças, as certezas. Hora de expandir as percepções

e apontar para a direção errada.

Já que a Terra não muda a rota, a gente se vira.

A gente se mata