31 de outubro de 2009

O que você pensa enquanto corre?

Toda vez que você corre você sente um friozinho na barriga, o seu suor escorrer e seu auto sustento o torna cada vez mais forte e preciso. E esse vento que bate no rosto é tão sereno e tranquilo, que a respiração fica mais leve como fumaça de cigarro num trago. Você quer ser mais no seu dia-a-dia, por isso você corre. No decorrer do caminho pessoas o observam, elas vão passando tão rápido que fica difícil de reconhecê-las.
Eu queria que ele tivesse me dado aquela rosa. Estava tão delicada que parecia ser feita de veludo. Por que ele levantou as mãos com o vento da brisa e as apontou para mim? Os cabelos me esvoaçavam, parecia magica para me fazer fora de mim. Sorri um riso tão largo que fez um som igual aos gritos de Janis Joplin. Olhei tão firme nos olhos que seu cintilar fizeram da minha alma de turva, algo cristalino. Por que ele seguiu fixo e a entregou para o outro? E então aquela rosa se transformou no presente que eu sempre quis ter ganhado. O mesmo vento que havia me bagunçado cessou instantaneamente.
Você decide parar um momento pra pensar se é aquela mesmo a direção que você quer seguir. Senta na pedra de mármore (friiiaa) enquanto seu suor goteja entre as suas pernas. Pode ser esse o momento fatal. E seus pensamentos não estão mais ali. O respirar te fez chegar em um estado oxigenado em que todos seus desejos viram imagens.
Aquele brilho intenso consumia segundos do meu sono, sempre antes de dormir, e quando dormia sonhava com eles. Sonhava com a rosa vindo para mim. Ela vinha girando no ar e alcançava meu rosto com um de seus espinhos, mas não sangrava.
Você se aquece de novo. Alonga a coxa, costas, peito, pula gradativamente mais alto, e quando menos percebe chega a dois, três, quatro metros do chão.
Eu desenfincava a rosa de mim.
Toda vez que você sobe é vento vindo de cima, e toda vez que desce o que vem de baixo ficar tão veloz, que as bochechas se erguem. Leveza! Leveza!
Eu queria ter estado lá aquele dia pra mudar o que eu fiz. Não mudei. Então agora preciso aguentar a ferida e fugir dos meus receios.
Ela era meu sonho.
Você voa. Você não quer mais parar de voar.

22 de outubro de 2009

Sozinha...

O que pode ser tão solitário nesse mundo onde nem um pouco solitário somos? Posso comprar uma casinha nos Alpes Suíços, ou mais possivelmente, nos Andinos, e dizer que sou solitária por natureza, que basta para mim me sustentar, com algumas ovelhinhas em volta, sem perspectivas. Ilusão.
Posso escrever muito, e mesmo assim notar que mesmo querendo que todas as pessoas do mundo leiam as minhas palavras, apenas meia dúzia de meia dúzia de bilhão as leem. Curioso.
Posso me considerar sozinha porque poucos me ouvem, porém, preciso lembrar de fechar as cortinas antes de trocar minhas roupas. Eu grito numa noite escura a fim de que alguém me ajude a entender os passos que dou (escolhidos por mim), ao passo que discuto minhas decisões com a primeira pessoa que aparece disposta a ouvi-las.
O interessante é entender que a solidão é a única que nos acompanha constantemente, e é aquela que oportunamente nos domina quando não trocamos olhares, ou quando não conversamos com alguém. Ser paradoxal. Nos acompanha quando não há supostamente ninguém, e nos convence de que não há mesmo ninguém, quando na realidade temos ainda o resto da meia dúzia de milhão para nos socorrer. Todavia, será que esse denominado "resto" quer mesmo nos ouvir, ou que de fato, o que as palavras da solidão indicam fazem sentido?
Às vezes me convenço, mas minha pequena mente otimista não se deixa convencer por muito tempo. Posso querer dizer que estou sozinha, mas minhas palavras são fruto do que acabei de ler de outros blogs, do livro que leio, e do jornal das manhãs. Pois aquela oportunista não me inspira a continuar, e não me traz as palavras as quais escrevo, não me deixa triste nem feliz a ponto de eu possa transcrever minhas sensações. Indiferente, eu diria. Apenas um tecido conjuntivo para preencher os vazios da rotina. Sozinha eu sou? Talvez algum dia, só da boca pra fora.
Procuro dizer: produto de todos aqueles que me alimentam, somado as reflexões da minha solidão oportunista.

13 de outubro de 2009

19

Assisti nas semanas passadas peças de 20 anos do companias teatrais brasileiras, entre elas: Armazem Cia. de Teatro, Compania do Atores, Galpão, entre outras.

Estranho pensar que são 20 anos de Compania. Cada um com seus trinta, quarenta, ou mais em anos de idade, dedicaram suas vidas durante mais do que vinte anos para fazer um teatro que não exagera em imitações, e se limita a mostrar palavra por palavra para compor qualquer sentido que passe pela cabeça de um ouvinte. Movimentação marcada, partitura de ações fidelíssima, tudo para expressar e viver um momento que para eles é mais que rotina, e para nós tão particular e incomum.
É como uma mensagem que se arrastando mostra que se pode fazer muito com pouco tempo, e simultaneamente, que para ser muito, precisa-se de muito tempo . Se você estiver de pernas pro ar nada acontece.
"Quero virar um astro rápido!IUUPI!", diz o menino sonhador, "Põem seu nome numa estrela!! Mas não garanto reconhecimento!", responde o velhinho sábio. Um cocô de pombo pode cair na sua cabeça, mas dinheiro e sucesso nunca.
20 anos é mais do que eu viva, e é um terço da idade do meu pai, contraditório.
Muito ou pouco, não sei.
Um engenheiro x : passa vinte anos dentro de seu escritório, idealizando algo que concretiza. Estuda, cadeira, livro, faculdade, estágio, promoção no emprego, 3.000 reais, 4.000 reais, 20.000 reais, e cresce, cresce a medida que sua experiência se afirma diante daqueles considerados medíocres. Ele passa vinte anos de sua vida, aperfeiçoando sua própria técnica de acumular: cargos, money, geld, money, cargos, bufunfa...

São 20 anos. E eu tenho 19.
Em vinte anos, quem sabe as coisas evoluem, e como.
Ganhei aquilo que pode se chamar de escolha, "livre" escolha.
Daqui a 20 poderei dizer: "Sei vivenciar algo que parece novo todos os dias.", ou então, "Sei acumular cargos e bufunfa...(lendo repita essas duas palavras 20 vezes)".

3 de outubro de 2009

É nesse ponto da vida :

Estou chegando nesse ponto da vida.

Em que a lógica da lógica do ser humano não faz mais sentido, sabe? É, eu sei que não sabe. Que o príncipio da vida não passa de devaneios da alma, momentos de felicidade, dedicação para viver do que se ama. Que o dinheiro pode ser tudo, e na maioria das vezes nada. Porque pra tirar um sorriso daquele rosto eu não preciso de dinheiro, pra rir da piada mais cafona e gargalhar da história de vida do outro eu não preciso de dinheiro. Para aprender a respeitar as pessoas, eu posso precisar de dinheiro, como educação. Mas respeito por respeito é uma questão de princípios, religiosos ou não religiosos, educacionais ou não, por fim, princípios intuitivos.
Matar não é bom e todo mundo sabe, não preciso da bíblia para saber disso, muito menos do dinheiro. Mas enfim como se vive?
Vi hoje um moço que andava na rua de vagar, devagar, a vagar. Não conseguia subir a rampa de 20 cm da calçada, eu ajudei, perguntei o que precisava. Simplesmente o seu destino era andar o mais longe que pudesse, um questão de 500 m, encostar no objeto mais próximo dormir e talvez ganhar uns trocados de uma alma piedosa. Era o começo de um mendigo, pois ainda falava e reclamava, pois ainda se vestia bem, sem sujeira suficiente. Podia ser meu avô, meu pai, eu. E assim, com uma renda de centavos por dia, como que se vive?
Uma questão de desejo, de vontade, porque eu quero quero quero quero quero! Eu querro ter uma casa, eu quero ter um carro, eu QUERO CONFORTO NA VIDA - é para soar como um grito. Por que você sempre quer algo? Eu quero um conforto nos momentos de tristeza. Eles já me convenceram que a tristeza é um constante da vida, e a felicidade ápices de emoção, acredito na verdade que haja algo ainda não identificado aí no meio, como uma feliteza ou uma tristicidade. Algo que paira pelo meio. Calmo, sereno, algo que permeia nossas vidas por tanto tanto tempo, que somos capazes de denominá-lo felicidade, ou até tristeza, ou nenhum dos dois. Contudo, em meios a uma solitária tristicidade, o conforto, que eu grito, acalma a minha alma.

Um dinheiro para eu poder ter uma cama, uma vida digna.
O resto sou eu mesma quem faz.