12 de junho de 2011

é pelo descaminho

Já não me preenche mais o caminhar vermelho das esquinas, as chuva fina é vazia... e as horas perdidas de sono não passam de um escorrer resmungado. Daqui do terceiro andar, vejo o lixo que eles jogam na rua acumular nas bocas dos bueiros, a água não desce, e a rua fica tão alagada como meu próprio cansaço. E aí... depois que os olhos pesam e o sono vem, os sonhos me mostram um além invisível ao olhar dos acordados. Um paralelo que se faz toda vez que alguém sonha, ou que alguém viaja nas imagens de suas fantasias. A lona cobre meus últimos pensamentos, mas meus pensamentos antigos já ficaram expostos ao Sol há muito tempo, estão tão quebradiços quanto os meus cabelos, e não controlo muito bem o fluxo das palavras quanto antes. Talvez melhor cair na armadilha dessa over-sinceridade, e destrambelhar antes que um onda arraste tudo, ou que a próxima enchente alcance os pés da minha cama.

O sentir que falta mais é o que me espanta, porque ao longo desse caminho as linhas do mapa embaçam e já não é mais permitido estar perdido. Os adultos precisam sempre saber pra onde estão indo, não é mesmo? E assim, se fingindo saber do futuro. Como videntes de nós mesmos. Vamos cultivando essa escuridão interna, sem se dar conta, que o buraco que cavamos para esconder a cabeça, já nos leva ao centro da Terra.

6 de junho de 2011

Rastrear

Me persigo sobre o balançar ligeiro da estrada, não consigo desacelerar a depressão que se instala. Meu ego cava a decoração que havia pelo interior, retira os brincos, as luvas, o salto, surra as calças, e mais do que tudo, me convence de esquecer as profundezas criativas do meu ser. Todavia, a medida que a hora passa, e não mais se enxergam os argumentos, no corpo circula sangue, o olhar se abre na única tarefa de estar, ali, inteiro, e mais nada. Ao circular dos excrementos expelidos pela alma lúcida e despretensiosa. Afogo-me no cálcio ingênuo, vou polir novamente o que arranhou nas asperezas da surra. Entro nas sub-rotinas da informação até exalar o cheiro que tem o chão pisado do centro da cidade. Excentricidade das nossas órbitas binárias, ainda há cores quentes na dança das estrelas frias, espectros de emissão entre as lânguidas asias do meu excessivo critério. Me cativo de ter cativeiros e sumo da luz de fundo que anisotropicamente alucinam os estudos desses físicos teóricos surdos. Acelero o tórax para despressurisar a busca, alivio a interna aflição com algum suor de bicicletas rápidas e pulo mais alto que uma pulga d’água para caber no enterro dos meu últimos dilemas. Para deixar de transformar desejos em problemas, e me sobrar deitada olhando para o universo, amolecer os dentes da vaidade. Escorregar sobre as dobras do espaço-tempo. Soprar um pensamento livre. E partir do lugar onde as confusões predominam, para habitar os nervos que se recombinam na leve busca de um sonho. Uma estrada. Muitos passos para se dar. Uma vida.