2 de novembro de 2010

Fios Cruzados

Curto circuito enquanto tecia as falas dos últimos sentimentos, por ele. Disfunção dos vértices do espaço-tempo, a curva de luz insistia em abrir caminho pra dentro, distante ofuscava a cabeça aguda do moleque de rua. Ele andava esguio e torto para o lado esquerdo, girava os dois braços ao mesmo tempo quando sentia medo, abria a boca e apareciam dentes fortes de um vampiro escravo. Um desespero no menino alado.

Enquanto isso eu abria os cadernos, apagava os vestígios do antigo amor-feto, balbuciava as conversas de cabeceiras virtuais, me condenava incapaz. O menino era tão torto, que sua tortura me fazia doer o dorso, curvei-me para a direita enquanto o observava e, por sua vez, o caderno apoiado na janela escorregou, foi parar lá no outro lado do terreno em cima do muro. A quina do meu grito virou um canto arredondado, era bocejo de preguiça por aquele descuido que veio do menino alado. Talvez buscar.

Talvez para sempre ficar em cima, no meio, sem atitude e perplexa como sempre foi, antes. E encarar a imagem como um desafio para meus próprios erros era tolo, infantil. A rua já não tinha o menino. A chuva fina começava a cair. Os novelos de lã estavam inundando a sala com suas mil cores e linhas. Era tempo de solidão em meio a uma concentração rala, e os fios de novelos voltavam a se unir numa sensação tricô, positivo com positivo até o fim do dia.

Um comentário: