12 de janeiro de 2011

A menina Equilibrista

Estive pensando em desatar os rumos, como se o universo conspirasse para que algo acontecesse em determinado momento só porque ele quer, o universo. Então você brinca de ser, um universo, e distorce as coisas, como uma grande massa gravitacional desviando o caminho da luz. Uma fusão de galáxias que você pode moldar, controlar pelo after effects a progressão das imagens. Tornar viável os fluxos que passam por dentro até virar um grande pensamento controlado pelos seus pensamentos. Pode ser coisas que vem por causa deste momento, onde me sinto capaz de moldar as coisas, como por exemplo, o tempo.


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Há uma linha infinita, riscada a cada segundo por um ser de um mundo profundo. Em cada risco, ele anota o que acontece, breves descrições das sensações que passam pelo seu corpo, e logo, os segundos os dias se passam, esse breve senhor, se vê na desgraça de anotar sem cessar as lembranças das sensações vividas por uma moça, uma mocinha, pequena, baixinha, doidinha para ser alcançada no meio de um desencontro. Ela lê contos, ela chora com os filmes, ela transparece ser firme, e ao mesmo tempo estranha. É que a garganta da moça arranha toda vez que fala de coisas que passam pela sua alma, então ela decidiu ser calma e procurar um senhor que anotasse, anotasse tudo que passasse por baixo das roupas da moça. Brevemente as frases dele deixaram de ser discretas, para se tornarem contínuas como um livro que se escreve a medida que se passa a vida. Às vezes era prosa, às vezes era verso, uma simples conversa que desatasse um universo. Mas como ele era capaz de entender a moça, ia fluindo pelas nuânces de seus olhos ia querendo distinguir os atos falhos, e os válidos. E a moça foi, desde os 16 anos, tendo quem escrevesse seu livro e desvendasse seus planos. Caçou pelos mares das dores, as cores de um futuro promissor, e revelou ser garota encantada quando se falava das dores de amor. O senhor que muito muito escrevia entendia que podia florear aqueles sentimentos, mas não havia o que aumentar pois o que acontecia era forte por si só. Era tudo como um nó apertado, não dá pra ser afrouxado, nem cortado. O que acontecia não podia ser fantasiado. Seus dedos cansavam suavam com o lápis, a caneta, a pena de pavão que arranjara enquanto escrevia perto da casa de um outro ancião. Enquanto escrevia e conversava uma conversa afiada, encontrou no destino do outro seu próprio destino, que deixara correr em vão pela simples missão de ter que transcrever a garota de forte coração. Sentiu-se triste mas não podia sentir a si. Sentiu o vazio de ser amplamente preenchido por outro moinho. O moinho da menina amada que vivia floreada por si mesma. Quando encontrava um grande amor, logo seus pés deslizavam pela perna, logo suas canelas atiçavam de ansiedade: queria correr sobre o tempo! Sim! O tempo da linha onde o senhor escrevia! A menina, quando amava, sentia que andava sobre uma linha equilibrada, justa sob os seus pés, mas ela não ligava, queria mesmo seguir pra frente, ver onde aquilo ia dar, queria acelerar as coisas. A medida que o velho a transcrevia, percebia que os segundos muitas vezes passavam mais rápido, percebia que os músculos dos dedos não eram mais flácidos eram ágeis, imutáveis, tensos e leves pelo seu papel de elevar palavras ao céu. Um dia desses, era muito quente pelo Rio de Janeiro, como se desaguasse o mundo inteiro pelos poros da pele, até podia derreter como neve. A garota de vestido sabia que a qualquer momento poderia cair da linha, pois os amores andavam fracos, tristonhos até mesmo medonhos. Andava equilibrada, mas com muito medo, carregava na mão dois pesos de chumbo, às vezes gritava para sentir o bumbo do seu próprio coração. “Você está aí?”, gritava, e o velho não respondia, pois só o que conseguia era escrever o momento tão rico em argumentos, desalentos, descontentamentos, ventos. Os dedos se movimentavam quase na velocidade da luz, começava a aquecer, a iluminar, a gerar uma radiação amarela que nunca se pode copiar, mas ele escrevia atônito. Não queria parar. Preferia continuar. Era como goz... gostava muito disso tudo! Ângela caiu da linha, havia uma rede bem logo embaixo, rede de segurança, aquela que se faz quando se põe uma aliança. Ângela caiu balançou e sorriu. Aplaudiu o velho cansado que agora pela primeira vez descansava e gritava “É o fim do meu primeiro livro!” Ela caiu de alivio. Ela sussurrou se tinha feito tudo certinho. E ele a pegou pelos braços acanhado. Percebeu seus músculos do rosto que tanto havia reparado, agora poderia olhar sem anotar, só brilhar por dentro do olhos de velho escritor que nascia com quase noventa anos. A menina agora corria por outros planos, buscava outros velhos, outras dores de amor, ou quem sabe escrevê-las por si só. Seu Antônio percebeu ter alcançado seus objetivos, mas que agora tudo fazia mais sentido e talvez fosse a grande hora de voltar a florear suas dores e morrer. Morrer de amores.

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