26 de junho de 2010

Gatos

Ele deve pensar, por que ela passa tanto tempo em frente a esse retângulo luminoso? Ele me olha como se implorasse por vida. Ele está aqui, vivendo intensamente, tanto que cada pedaço de corda é como um parque de diversões, os papeis viram seus melhores amigos, qualquer movimento traz energia. Eu tenho inveja disso.
Eu devo pensar, por que ele consegue ser assim tão leve enquanto eu busco entreter-me com luzes cores e letras? Ele não precisa de cores, nem letras. Seu tempo é irrelevante. Eu concluo que não fui eu quem decidiu buscá-lo na casa de uns amigos, foi ele que decidiu me encantar com seu carinho por seres humanos.
Eu devo me perguntar, por que quando fixo em seus olhos ainda sinto mais forte esse surreal? Dos braços até as pernas me transporto com um pensamento. Tenho cinquenta e cinco quilos, e só preciso de pensamento pra me mover, e só preciso de vontade pra fazer minha matéria estática ser transiente.

O mais simples exemplo do encontro entre o abstrato e o concreto.

Ele é concreto e abstrato, posso ousar dizer, mais concreto do que abstrato.
Eu sou mais abstrata do que concreta, muitas vezes me esqueço do ser concreto.
Ele está aqui do meu lado me mostrando um outro caminho, um outro sentido, uma nova perspectiva.

E eu aqui me preocupando em concretizar minhas abstrações, pra me reafirmar através dessa tela.
Enquanto ele me concretiza todo um mundo.
Sem cores e nem ao menos uma palavra.

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