16 de fevereiro de 2010

Princesa da Grama

Então eu passava por ali, em busca de uma paisagem, de um trecho de história, algo que pudesse ser explorado pelos detectores da máquina. Ali era um mar de grama e árvores, um gramado sereno que acalmava a vida de quem anda em um parque. Parque. Marque. Baque.
E aquela senhora que distribuía alguma coisa para os pássaros que a circundavam. Não eram apenas pássaros, eram amigos de estrada, pessoas que dividiam a realeza a realidade que era aquela mulher.

Um punhado de roupas, um dia ensolarado
Graças ao bom Deus, ele a poupou da chuva e do frio.
Tinha árvore para fazer sombra, um vazio.

E assim chego e não aguento, tiro da mochila a camera.
Quero guardar o sentimento.
Então ela se invoca, diz que vou ganhar dinheiro com aquilo, as custas dela.
Resmunga, resmunga, resmunga e resmunga.
"Sou princesa, sabia? Quer que eu mostre os documentos?"
Me espanto, me surpreendo, me encanto.
"Não precisa!", grito.
"Eu já sabia que você é uma princesa."
E aquela frase a engloba, pega seu ego e transforma numa tocha.
Ela é princesa e todos sabem disso, todos dizem que ela é uma princesa.
Pergunte a mim, eu direi que sim. Pergunte só a mim.

Veio uma risada envolvente, uma alegria, um grito que contagia e que me fez transbordar de incomodo. Ela é mendiga, e não há quem não diga. Aquele universo onírico me faz acordar. Eu acordo desse coma induzido pelas belezas das paisagens do parque.

"Já que você sabia que eu sou a princesa. Porque não trouxe um sanduíche pra ela? A princesa tá com fome."

Um alvoroço. Estranho, eu quis até vomitar.
Essa sensação que me ofega.
Sou eu justa por tirar dela a alma e por transformar no meu trabalho-arte ?
O que afinal é arte?
Sei que por toda parte, o que eu vejo é arte.
Essa mendiga no parque
A princesa da grama
Fez hoje da minha imagem
mais do que um simples drama.

Princesa da Grama

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