Então eu passava por ali, em busca de uma paisagem, de um trecho de história, algo que pudesse ser explorado pelos detectores da máquina. Ali era um mar de grama e árvores, um gramado sereno que acalmava a vida de quem anda em um parque. Parque. Marque. Baque.
E aquela senhora que distribuía alguma coisa para os pássaros que a circundavam. Não eram apenas pássaros, eram amigos de estrada, pessoas que dividiam a realeza a realidade que era aquela mulher.
Um punhado de roupas, um dia ensolarado
Graças ao bom Deus, ele a poupou da chuva e do frio.
Tinha árvore para fazer sombra, um vazio.
E assim chego e não aguento, tiro da mochila a camera.
Quero guardar o sentimento.
Então ela se invoca, diz que vou ganhar dinheiro com aquilo, as custas dela.
Resmunga, resmunga, resmunga e resmunga.
"Sou princesa, sabia? Quer que eu mostre os documentos?"
Me espanto, me surpreendo, me encanto.
"Não precisa!", grito.
"Eu já sabia que você é uma princesa."
E aquela frase a engloba, pega seu ego e transforma numa tocha.
Ela é princesa e todos sabem disso, todos dizem que ela é uma princesa.
Pergunte a mim, eu direi que sim. Pergunte só a mim.
Veio uma risada envolvente, uma alegria, um grito que contagia e que me fez transbordar de incomodo. Ela é mendiga, e não há quem não diga. Aquele universo onírico me faz acordar. Eu acordo desse coma induzido pelas belezas das paisagens do parque.
"Já que você sabia que eu sou a princesa. Porque não trouxe um sanduíche pra ela? A princesa tá com fome."
Um alvoroço. Estranho, eu quis até vomitar.
Essa sensação que me ofega.
Sou eu justa por tirar dela a alma e por transformar no meu trabalho-arte ?
O que afinal é arte?
Sei que por toda parte, o que eu vejo é arte.
Essa mendiga no parque
A princesa da grama
Fez hoje da minha imagem
mais do que um simples drama.
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