15 de maio de 2010

Como se suporta o cheiro?

Fico feliz em perceber o quanto as coisas podem ser dinâmicas, e quanto tudo me parece cada vez mais co-nectado, conecta-do, conec-tado. Isso poderia me gerar uma outra postagem, mas vamos parar por aqui e descobrir o que eu encontrei em cadernos do ano passado. Palavras que flutuavam a espera de alguns leitores e de algumas conclusões.

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Ela podia reproduzir o cheiro com seu próprio nariz, como se ainda pudesse estar lá. Era o calor e o suor que ocupavam aquele quarto escuro. Ela não tinha uma boa lembrança, na verdade, só lembrava o cheiro e nada mais. Por que estivera ali, ou quem suava, não eram perguntas com claras respostas.
Mesmo assim ela ia, ia. Aquele cheiro voltava em muito momentos para preencher o vazio ou sufocar o acúmulo. O excesso.
O cheiro começou a fazer parte de seu dia a dia, quando se sentia triste, lá estava ele. Quando se sentia feliz pudera ela seti-lo ao fundo, como uma canção sem notas, porém, sensações. A canção que só ela ouvia.
Encantada com a possibilidade de espalhar essa experiência, ela começou a espalhar pelos sete mares o que lhe passava. Quem sabe alguém pudesse ajudá-la a entender. Muitas pessoas, adimiradas, começaram a buscar esse tal fenômeno em suas vidas. Eles queria essa nova dimensão como lamentar com cheiro de ketchup! Beijar com cheiro de álcool! O caso virou tendência, moda. E todos passaram a ganhar cheiros em suas vidas, para cada momento um cheiro sem razão.

Quando, enfim, eles entenderam.

O cheiro é o rastro que eu deixo quando não entendo.
Quando o grito aumenta até arranhar a minha garganta
Quando não consigo mais pensar em nada.
O cheiro é a parte de mim que não quer ir embora
E implora pra eu, por favor, voltar para mim mesma
Se eu não quiser, que pelo menos eu seja forte o suficiente pra gritar e dizer:
"SAI!!"

Depois que descobriram, perceberam que o cheiro era um pedaço apodrecido de seu próprio corpo, ou o perfume que sem perceber usamos todos os dias. Esse cheiro, é o vício que querer encontrar no que é novo aquilo ao que já estamos acostumados a interpretar.
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